Ícones da Computação

Pedro SalenbauchPedro Manoel da SilveiraFábio MarinhoEber Assis SchmitzPaulo Henrique de Aguiar RodriguesIvan da Costa MarquesJayme Luiz SzarcfiterJúlio Salek AudeEliana Prado Lopes AudeNewton FallerPaulo Mario Bianchi FrançaTércio Pacitti

Pedro Salenbauch

Pedro Salenbauch chegou à UFRJ em 1970 para o mestrado no Programa de Engenharia de Sistemas e Computação (PESC/COPPE). Tinha acabado de se formar em Engenharia no ITA. Seu orientador, Denis França Leite, à época chefe do Departamento de Cálculo Científico da COPPE (o embrião do NCE), propôs como tese o desenvolvimento de um compilador Fortran para o computador IBM 1130.

O COPPEFOR otimizou o processamento e depuração dos milhares de pequenos programas escritos pelos alunos, tornando mais eficiente o uso de máquina. O compilador foi distribuído e utilizado gratuitamente por diversas Universidades no país e na América Latina.

Na década de 1970, Pedro Salenbauch lecionou disciplinas no PESC/COPPE. Considerado um programador de excelência, foi contratado pelo NCE em 1972, passando a atuar também na docência de graduação do curso de Ciência da Computação. Na década de 1980, estabeleceu uma parceria que levaria ao desenvolvimento do sistema operacional Plurix, que rodava no Pegasus, um supermicro de 32 bits, multiusuário e multitarefa, uma inovação à época. O projeto Pegasus/Plurix teve a coordenação geral de Newton Faller, que, para além das atividades profissionais, tornou-se um grande amigo. Tanto a máquina quanto o sistema operacional foram licenciados para empresas nacionais no período da reserva de mercado em Informática.

Com o fim da reserva e a chegada dos microcomputadores, Pedro Salenbauch assumiu um novo desafio: transportar para o PC o sistema operacional desenvolvido para o Pegasus. Neste ambicioso projeto, contou com a parceria de Oswaldo Vernet, com quem já havia trabalhado no Plurix. Com a chegada da internet, o Tropix, como foi batizado, foi disponibilizado para ser baixado e desenvolvido colaborativamente. Pedro Salenbauch também atuou nos primeiros anos do progama de mestrado conjunto do NCE e Instituto de Matemática, o PPGI/UFRJ.

Pedro Manoel da Silveira

Pedro Manoel da Silveira entrou como estagiário no Núcleo de Computação Eletrônica em 1971, integrando o grupo de programadores. Engenheiro, concluiu o mestrado na COPPE Sistemas e o doutorado na Kent University at Canterbury, na Inglaterra.

Desenvolveu, com Laerte Martins, o Pretexto (1974-1975), um sistema operacional específico, como parte dos esforços seminais do NCE para a criação de um ambiente de pesquisa tecnológica. Desenvolveu e implantou o pioneiro sistema de pessoal da UFRJ (1978), cujo modelo foi adotado por diversas universidades brasileiras. Participou de inúmeros projetos técnicos na área de computação para instituições e empresas brasileiras de grande porte.

Na área de ensino e pesquisa, atuou como docente em cursos de graduação e pós-graduação do Departamento de Ciência da Computação da UFRJ, tendo orientado alunos em teses de mestrado e participado dos principais congressos e simpósios do país, seja como membro dos comitês de programa, organizador, editor ou autor de publicações científicas. Também atuou como consultor para as principais agências de desenvolvimento técnico-científico do Brasil, e participou por anos do júri do Concurso Nacional de Software. Premiado no Concurso Nacional Monografias da CAPES (1981). Editor da Revista Brasileira de Computação, juntamente com Marcos Roberto da Silva Borges (1989-1991). Criador do Concurso de Teses e Dissertações da SBC. Atuou como Coordenador Geral do XII Congresso da Sociedade Brasileira de Computação, em 1992, e como Coordenador do SECOMU, em 1996.

Foi Presidente da Sociedade Brasileira de Computação (1991-1993), e posteriormente membro titular do Conselho da SBC (1993-1997). Em várias oportunidades, representou a sociedade em encontros e movimentos políticos organizados pela SBPC.

Pedro Manoel foi presidente da Comissão de Especialistas do MEC (1993), onde contribuiu diretamente para uma profunda transformação, liderada pelos professores Roberto Bigonha, Daltro Nunes e Miguel Jonathan, no protagonismo e nos métodos de avaliação dos cursos superiores na área de computação. Foi, por anos (1993-1996), membro da Comissão de Informatização para Universidades do MEC, onde criou o programa nacional de distribuição de Laboratórios de Informática para a Graduação e cunhou a sigla LIG.

Foi ativo negociador da sociedade civil junto à Câmara de Deputados quando da aprovação da revisão da Lei de Informática, em 1991, apoiando e recuperando uma cláusula que resultou na distribuição de recursos da ordem de centenas de milhões para instituições de pesquisa do Brasil.

No NCE, Pedro Manoel da Silveira ocupou os cargos de coordenador e vice-coordenador em períodos diversos, e atuou decisivamente para que o Núcleo evoluísse para uma unidade técnico-científica formalmente estabelecida e detentora de prerrogativas de cunho acadêmico: o Instituto Tércio Pacitti de Aplicações e Pesquisas Computacionais.

Apesar da larga participação em iniciativas de políticas públicas, Pedro considera-se um programador apaixonado pela sua profissão.

Fábio Marinho

Em 1969, José Fábio Marinho de Araújo estava no segundo ano de Engenharia da UFRJ quando começou a estagiar no Departamento de Cálculo Científico (DCC/COPPE), dirigido pelo então major Pacitti. Sua tarefa era operar o IBM 1130 do DCC: ele recebia os programas dos alunos e os submetia para processamento no computador.

Fascinado pelo “cérebro eletrônico”, como era conhecido o computador, se interessou em aprender a linguagem em que eram escritos os programas, o FORTRAN. O major Pacitti tinha escrito um livro sobre o assunto. Fábio Marinho fez o curso de FORTRAN que o DCC oferecia. Seu professor foi Ivan da Costa Marques, que, muitos anos depois, foi seu orientador no doutorado.

Naquele momento, não conseguiu ser contratado pela Universidade. Mas, por sorte, foi indicado para a vaga em uma empresa de consultoria que blocava horas no computador e precisava de um aluno que conhecesse FORTRAN. Contratado para um projeto específico acabou permanecendo na empresa por conta de sua habilidade em programação.

Mas a UFRJ crescia e demandava informatizar sua administração. O DCC havia se transformado no Núcleo de Computação Eletrônica. Adquiriu-se um IBM 360/40, de maior porte e voltado para aplicações não cientificas.

Luiz Antonio Couceiro, que o havia indicado para a vaga na empresa de consultoria, novamente lembrou-se dele quando a Universidade começou a contratar novos programadores para a área não cientifica. Saiu então da empresa e veio para o NCE ganhando um terço do que recebia lá. Mas ele sabia que na Universidade teria chance de estudar e se desenvolver. Aprendeu COBOL e passou a trabalhar no sistema de registro acadêmico que, ao longo do tempo, foi aperfeiçoado e transferido para uma nova entidade, o DRE.

Após um trabalho externo de coordenação do centro de processamento de dados da Universidade Gama Filho, que fez uma parceria com o NCE, Fábio Marinho integrou o grupo de software do projeto do Terminal Inteligente, máquina programável baseada em um chip de 8 bits.

Em 1974 foi cursar o mestrado em Computação na Universidade da Califórnia/Berkeley , com uma bolsa da OEA. Retornando ao Brasil, assumiu a vice-coordenação do NCE na gestão de Jayme Szwarcfiter e em seguida a coordenação geral (1977 a 1980).

Passado o período na coordenação, interessou-se pelo projeto de uma rede local em anel desenvolvida em Cambridge. Luiz Antonio Couceiro voltava do doutorado na Universidade de Kent, na Inglaterra, e trouxe os esquemas completos, o que permitiria implementar uma versão dessa rede no NCE.

Foi um grande desafio! Era preciso importar os componentes, substituir circuitos por outros equivalentes e testar tudo. Diogo Takano foi seu parceiro no projeto e eles conseguiram colocar a rede em operação.

O NCE já era um centro de referência em desenvolvimento de computação, graças aos resultados do grupo liderado por Ivan da Costa Marques. E, nessa época, o país restringia a importação de alguns equipamentos (reserva de mercado). O Citibank tinha planos de interconectar seus microcomputadores nas agências em todo o mundo. Como não poderiam importar os equipamentos, no Brasil teriam que desenvolvê-los localmente. O Citibank procurou o NCE e propôs um projeto de rede em barra financiado pelo banco (100 mil dólares). Fábio Marinho liderou a equipe do projeto que contou com Luci Pirmez e Moacyr Azevedo.

Em paralelo ao trabalho no NCE, por conta dos baixos salários da época, um grupo de analistas decidiu criar uma empresa de treinamento, o IBPI. O IBPI também atuou no desenvolvimento de software com uma ferramenta criada para essa finalidade – PC-Case, desenvolvida por Antonio Juarez Alencar, que fazia mestrado na COPPE e em seguida foi fazer doutorado nos EUA.

O IBPI associou-se à ASSESPRO – Associação de Empresas de Software, Serviços e Internet, entidade da qual Fábio Marinho foi diretor e depois presidente nacional (1987). Como presidente da ASSESPRO, foi conselheiro no Comitê Gestor da Internet Brasil. Foi indicado também para trabalhar na criação de um organismo regional para administrar a Internet na America Latina e o Caribe, o LACNIC. (1999)

Com a experiência vivida no grupo de desenvolvimento de hardware criado por Ivan da Costa Marques no NCE, Fabio Marinho acreditava que, com a ajuda do governo, o Brasil poderia ter uma atuação internacional na área de software. Assim, junto com Eduardo Costa, da Telebrás, que se alinhava a essa ideia, rascunhou o projeto SOFTEX (1992), que envolveu outros técnicos e foi implementado com sucesso. Hoje o Brasil tem uma parcela relevante no mercado internacional de software.

Eber Assis Schmitz

Eber Assis Schmitz possui graduação em Engenharia Eletrônica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1971), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1973) e doutorado em Computing and Control pelo Imperial College London (1980). É professor associado da UFRJ e analista de sistemas no Instituto Tércio Pacitti (NCE).

Eber chegou ao antigo Núcleo de Computação Eletrônica no início da década de 1970 e foi o primeiro funcionário contratado da Divisão de Desenvolvimento. Lá, junto com Newton Faller, coordenou os primeiros projetos de construção de hardware: o Processador de Ponto Flutuante e o Terminal Inteligente.

Em sua trajetória profissional, teve fundamental participação em alguns dos maiores projetos do NCE:

  • Projeto de um dos primeiros circuitos integrados VLSI do Brasil – chip para interface com rede local em anel
  • Ferramentas de apoio ao projeto de circuitos integrados MOS: Cadmos e Tedmos
  • Criação dos primeiros Cursos de Especialização Lato Sensu do NCE: MBI, IS-Expert

Desde o início, atuou na área acadêmica, tendo integrado o quadro de professores do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação (PESC/COPPE/UFRJ). Hoje, é docente do Departamento de Ciência da Computação e do Programa de Pós-Graduação em Informática, ministrando disciplinas e orientando dissertações e teses.

Durante um período de licença da Universidade, foi responsável pelo desenvolvimento da ferramenta CASE, PC-Case, que ganhou o prêmio Assespro de melhor ferramenta de software brasileira no ano de 1990.

Eber mantém-se atuante na área de Engenharia de Software e Sistemas de Informação, com ênfase em: modelagem e especificação de software, análise de risco em projetos de TI, economia da engenharia de software, modelagem e simulação de processos de software e regras de negócio. Dentre suas atividades mais recentes estão um projeto de atualização e melhorias de software proprietário para a empresa Siemens.

Paulo Henrique de Aguiar Rodrigues

Paulo Henrique de Aguiar Rodrigues chegou à UFRJ em 1975, para atuar como analista de sistemas do NCE e auxiliar de ensino. Logo de início desenvolveu um controlador e formatador de disco flexível, para o Terminal Inteligente, um dos primeiros projetos de hardware do NCE, que foi o tema de seu mestrado na Coppe. O desejo de industrializar seus desenvolvimentos de hardware levou o NCE a criar em 1977 a Embracomp, uma experiência interessante de startup da época. Paulo Aguiar foi diretor administrativo e industrial durante o primeiro ano de existência da empresa. O doutorado na UCLA no início da década de 1980 o levou para uma área que já despontava: Redes de Computadores.

De volta ao Brasil, foi presidente do Comitê Técnico e Científico do Laboratório Nacional de Redes de Computadores (LARC), além de Coordenador de Operações da Rede Rio de Computadores. Atuou como consultor na implantação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Coordenou o GT-VOIP de CLARA (Cooperación Latino-Americana de Redes Avanzadas) de 2009 a 2011, implantando o proxy CLARA SIP para interconexão VoIP dos países de CLARA.

Coordenou o Laboratório VoIP no NCE/UFRJ, responsável pelo desenvolvimento e evolução da arquitetura do serviço fone@RNP que oferece conectividade VoIP aos membros da RNP. Foi coordenador técnico do Projeto VoIP4ALL (treinamento VoIP para universidades, centros de pesquisa), projetos específicos para treinamento de unidades de outros ministérios, como as unidades da Embrapa.

O LabVoIP se tornou na época um referencial de conhecimento nesta área, sendo procurado por empresas que buscavam conhecimento tecnológico e potencial para inovação de seus produtos. Dois grandes projetos com empresas (VAT e INOVAX) tiveram financiamento FINEP.

Os recursos oriundos desses projetos viabilizaram a concessão de bolsas de pesquisa para inúmeros alunos. Pelo LabVoIP passaram mais de 30 alunos de graduação e pós-graduação, alguns deles criando startups na área de VoIP, outros assumindo colocações no mercado de trabalho pela excelência de formação adquirida.

Paulo Aguiar foi agraciado com bolsa de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora – DT (triênio 2010-2012). O reconhecimento por sua atuação em prol do esforço na área de Redes veio com o certificado de Construtor da Internet no Brasil, Categoria Nacional, dado pelo Comitê Gestor Internet (CGI.br), quando se comemorou, em 2017, os 25 anos da implantação da Internet no país. Em 2020, foi condecorado com o Prêmio Destaques em Governança da Internet no Brasil, conferido pelo CGI.br, pela valiosa contribuição para o desenvolvimento da Internet no país.

Dentre outros destaques de sua trajetória profissional estão a coordenação do projeto do backbone da rede de alta velocidade da UFRJ (1995). Suas contribuições para viabilizar as infraestruturas de rede dentro e fora da UFRJ, bem como o serviço VoIP e a capacitação de recursos humanos de outras instituições para viabilizar o sucesso de um serviço com alto grau tecnológico e impacto substancial na economia de recursos para as instituições e o País são seu grande legado.

Ivan da Costa Marques

Ivan da Costa Marques veio para a UFRJ como estagiário em 1967, a convite de seu professor do ITA, Tércio Pacitti, que na época coordenava o Departamento de Cálculo Científico da COPPE. Em depoimento gravado em vídeo para o Projeto Memória NCE, Ivan conta que quando chegou à UFRJ ele e seus companheiros Ysmar Vianna e Silva Filho e J. Paulo Favila Lobo eram “verdadeiras máquinas de ensinar a programar FORTRAN”. Mas, a partir de 1969, quando foi para o doutorado na Universidade da Califórnia, em Berkeley, passou a ter um olhar diferente sobre a educação, a ciência e a tecnologia.

Na Califórnia, Ivan viu nascerem as primeiras empresas de alta tecnologia na região que ficou conhecida como Vale do Silício. Essa experiência amadureceu as ideias que trouxe no seu retorno e compartilhou com seus colegas no NCE: era preciso pesquisar, desenvolver tecnologia nacional e repassar os frutos deste trabalho para uma indústria nacional que ainda estava sendo criada.

Nos primeiros anos da década de 1970, a UFRJ tinha muitos problemas reais que a computação poderia ajudar a resolver. Os jovens engenheiros, seguindo a visão estratégica de Ivan da Costa Marques decidiram transformá-los em desafios. Com essa intenção, foi construído o Processador de Ponto Flutuante. O PPF foi o primeiro projeto de desenvolvimento do Núcleo de Computação Eletrônica. Era um artefato que funcionava acoplado ao computador IBM 1130 da UFRJ aumentando sua capacidade de executar operações aritméticas típicas de suas aplicações, adiando a necessidade de sua substituição por outros novos modelos importados.

Junto à Ysmar Vianna e Silva Filho, na época coordenador do NCE, Ivan foi um dos principais articuladores para a criação do Departamento de Ciência da Computação e do Curso de Informática da UFRJ, que, por questões burocráticas, nasceram vinculados ao Instituto de Matemática, pois o NCE, como órgão suplementar, não podia atuar diretamente no ensino.

Sua liderança natural entre os grupos acadêmicos e o pessoal dos órgãos governamentais levou-o a trilhar outros caminhos: foi Coordenador de Política Industrial-Tecnológica da CAPRE e Diretor Técnico da Digibrás (órgãos do Ministério do Planejamento) de 1977 a 1980, tendo forte protagonismo na formulação da Política Nacional de Informática.

De 1981 até julho de 1986 foi o maior acionista e dirigiu a empresa privada fabricante de terminais e outros produtos de informática criada pelo pessoal do NCE (Embracomp – EBC). De agosto 1986 a julho de 1990, foi diretor-presidente da fabricante estatal de computadores COBRA S.A.

Jayme Luiz Szarcfiter

Jayme Szwarcfiter tem mais de 50 anos da vida passados como aluno, professor e educador dentro da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O Prof. Jayme é mestre pelo Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da UFRJ (1971), com dissertação intitulada “Sistemas de Automação de Bibliotecas”, que tratou da informatização da biblioteca da COPPE. Obteve o título de Ph.D. pela Universidade de Newcastle Upon Tyne, na Inglaterra (1975).

Começou a dar aulas em 1968 como Professor Auxiliar de Ensino do Instituto de Matemática. Participou ativamente da criação e consolidação dos principais grupos de ciência da computação da UFRJ: o do Núcleo de Computação Eletrônica, o do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da COPPE, e o do Instituto de Matemática da UFRJ.

O Prof. Jayme exala excelência acadêmica em tudo que faz, durante toda a sua carreira. Sua trajetória enquanto professor e orientador o levou a formar 22 mestres e 32 doutores, que atualmente são docentes de várias universidades do país e do exterior.

Em 1974, durante seu doutoramento, teve uma importante publicação em co-autoria com um dos maiores cientistas da computação de todos os tempos, o Prof. Donald Knuth da Universidade de Stanford, com o artigo “A Structured Program to Generate All Topological Sorting Arrangements”, artigo esse que mais tarde em 1992 foi reproduzido na íntegra e com comentários como um capítulo do livro “Literate Programming”, escrito pelo próprio Knuth.

Em 1982 o Prof. Jayme publicou o importante trabalho intitulado “Hamiltonian Paths in Grid Graphs” com outro cientista da computação muito importante, o Prof. Christos Papadimitriou da Universidade da California, Berkeley, agora sobre a sua área principal de pesquisa que é grafos.

Em outro artigo, “Optimal Multiway Search Trees for Variable Size Keys”, em 1984, sobre árvores múltiplas de busca, o Prof. Jayme consegue obter algoritmos eficientes para as árvores que tratassem registros de tamanho variável, com uma quantidade qualquer de registros na raiz. O problema resolvido foi proposto por um dos criadores da árvore B, McCreight, em 1977. Dentro do mesmo tema, árvores de busca, em coautoria com o Prof. Nivio Ziviani (UFMG), o Prof. Jayme escreveu o artigo “Optimal Binary Search Trees with Costs Depending on the Access Paths”, publicado na revista Theoretical Computer Science, em 2003.

O Prof. Jayme é autor do livro Grafos e Algoritmos Computacionais, um clássico lançado em 1984, e coautor do livro Estruturas de Dados e seus Algoritmos, publicado em 1994, esse segundo livro sobre projeto de algoritmos eficientes. Além disso, participou da organização de outros sete livros, publicou 103 artigos completos em periódicos nacionais e internacionais e tem 71 trabalhos completos publicados em anais de congressos no Brasil e no exterior.

O Prof. Jayme participou ativamente da consolidação do sistema de pesquisa e pós-graduação do país, tendo sido Membro do Comitê Assessor de Ciência da Computação do CNPq durante cinco períodos, membro do Comitê Assessor de Ciência da Computação da CAPES em três avaliações de programas de Pós-Graduação, Membro do Comitê Assessor do PRONEX – Programa de Núcleos de Excelência, programa nacional que iniciou uma nova era de apoio a grupos de pesquisa no país, com consequente aumento da produção científica brasileira de forma notável, Membro do Comitê Assessor do Programa Brasileiro-Argentino de Pesquisa e Estudos Avançados em Informática por dois períodos, e Membro do Conselho Técnico de Informática do Estado do Rio de Janeiro por dois anos consecutivos.

O Prof. Jayme foi professor visitante como pós-doutor em universidades importantes. É pós-doutor pela University of California Berkeley (EUA), em 1980; pelaUniversity of Cambridge (Inglaterra), em 1985; e pela Université Paris-Sud (França), em 1994. Também foi pesquisador visitante de universidades sediadas na França, Itália, Polônia, Argentina, Israel, República Tcheca, entre outras.

O Prof. Jayme recebeu vários prêmios e distinções importantes, dentre elas podemos citar o Prêmio Álvaro Alberto de Ciência e Tecnologia em 2001, um dos mais importantes no reconhecimento acadêmico no Brasil, Prêmio de Mérito Científico da Sociedade Brasileira de Computação em 2005, a principal sociedade científica do país, Comendador da Ordem Nacional de Mérito Científico em 2006, em função de suas contribuições prestadas à ciência e tecnologia, Prêmio de Destaque Científico concedido pelo Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da UFRJ em 2006, e foi eleito Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências em 2010.

Em 2002 o Prof. Jayme recebeu o título de Professor Emérito. Professor emérito é um título conferido por uma entidade de ensino a seus professores já aposentados, que atingiram alto grau de projeção no exercício de sua atividade acadêmica. É concedido de forma rigorosa, àqueles profissionais que se destacaram em sua área de atuação, pela relevância e/ou magnitude de sua produção e atividade científica, desfrutando de grande reconhecimento pela comunidade acadêmica. Trata-se da maior honraria existente hoje no meio acadêmico. A UFRJ concede este título a professores titulares aposentados, sabiamente, de forma a trazê-los de volta para o ambiente universitário, permitindo-lhes lecionar, orientar teses, entre outras atividades docentes.

Em 2012, recebeu o Prêmio Giulio Massarani de Mérito Científico, oferecido pela COPPE/UFRJ.

Júlio Salek Aude

O professor e pesquisador Júlio Salek Aude, falecido em 28 de fevereiro de 2001, iniciou sua vida profissional no NCE em 1975. Formado em 1974 em Engenharia Eletrônica pela UFRJ, obteve o grau de Ph.D. em 1986 pela University of Manchester, na Inglaterra. Ele foi testemunha e personagem do processo de desenvolvimento da computação brasileira.

O professor Júlio Salek lecionou na graduação e pós-graduação em Informática no NCE/Instituto de Matemática ministrando diversos cursos de graduação, mestrado e doutorado na área de Arquitetura de Computadores. Ciente de que a Informática não deve ter fim em si mesma, idealizava uma pós-graduação interdisciplinar, capaz de gerar profissionais aptos a enfrentar novos desafios e demandas. No Núcleo desenvolveu diversos projetos pioneiros e foi diretor da Área de Ensino e Pesquisa além de ter assumido a coordenação da instituição em 1992.

Pioneiro em diversos projetos, Salek esteve sempre à frente do seu tempo. O último trabalho em que esteve envolvido foi o Multiplus, onde trabalhou no desenvolvimento de um multiprocessador com arquitetura de memória compartilhada fisicamente distribuída e com sistema operacional Mulplix. O projeto, que almejava a autonomia nacional está entre os maiores da área de Arquitetura de Computadores no Brasil.

Júlio Salek foi o grande responsável pela criação da Pós-Graduação em Informática do NCE/IM, que sacramentou a participação do Núcleo no ensino da UFRJ. Inicialmente lutou pela criação do Mestrado e no ano do seu falecimento pode ver realizado o sonho do Doutorado. “Já existe hoje uma demanda considerável pelo recém-lançado curso de doutorado, gerada principalmente por alunos que concluíram o curso de Mestrado em Informática”, ressaltava Salek, que considerava a criação do Doutorado uma necessidade da instituição.

O pesquisador atuou intensamente durante a reserva de mercado de informática no país. Organizou a 1ª Exposição de Tecnologia (EXTEC), que aconteceu no II Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) no início da Política Nacional de Informática. O evento foi idealizado para que as universidades pudessem divulgar seus trabalhos e atrair a indústria.

Sócio fundador da SBC e membro da Sociedade Brasileira de Microeletrônica, da qual foi vice-presidente entre 1990 e 1997, Salek teve seu nome reconhecido internacionalmente, tendo conseguido convênios com a França e os EUA e obtido recursos e financiamentos para os projetos que coordenava. Organizou por dois anos seguidos a Expotec, quando esteve à frente da coordenação geral do NCE e foi um dos responsáveis pela reestruturação do Departamento de Eletrônica da UFRJ.

O professor e pesquisador Adriano Cruz, que assumiu o projeto Multiplus, garante que é complicado substituir o trabalho de uma pessoa tão gabaritada quanto ele. “Antes de tudo éramos amigos, fizemos Eletrônica juntos não UFRJ e entramos para o NCE no mesmo período”, lembra acrescentando que na época ambos passaram em concurso para a Petrobras mas resolveram investir no Núcleo.
Segundo Adriano, que conviveu com o pesquisador desde o antigo ginasial, Salek era uma pessoa muito amável e querida no trabalho. “Apesar de todo brilhantismo era uma pessoa absolutamente simples, sabia sempre a escalação completa do Flamengo que era seu time de coração”.

Destaques do Currículo

Coordenador, pelo lado brasileiro, do acordo de cooperação internacional com o laboratório LIP6 (ex-MASI) da Université Pierre et Marie Curie, Paris 6.

Desenvolvimento de um Sistema de CAD para Projetos de Circuitos Eletrônicos adaptáveis a diferentes tecnologias e técnicas de implementação e que permite o uso de programas de aplicação desenvolvidos como sistemas especialistas – Department of Computer Science, University of Manchester, Inglaterra, de 1982 a 1986 (tese de doutorado).

Coordenador do Projeto ARCO – Sistema de Geração de Layout de Placas de Circuito Impresso com Acelerador de Roteamento baseado na exploração de paralelismo no algoritmo de roteamento proposto por Lee através de estruturas do tipo pipeline, de 1987 a 1993 (NCE/UFRJ).

Membro do corpo editorial do Journal of Solid State Devices and Circuits da Sociedade Brasileira de Microeletrônica e da Revista do Instituto de Informática da PUCCAMP.

Editor da Revista Brasileira de Microeletrônica, de 1992 a 1994.

Coordenador do Curso de Engenharia Eletrônica da Escola de Engenharia da UFRJ a partir de 1977, três anos após ter concluído sua graduação.

Paraninfo de 1976 a 1980 das turmas de Engenharia Eletrônica da UFRJ. As homenagens foram interrompidas apenas no período em que Salek esteve afastado para doutorado.

Patrono das turmas de Engenharia Eletrônica (1988) e de Bacharéis em Ciência da Computação (2000) da UFRJ, Salek continuar a ser homenageado in memoriam por muitas turmas da UFRJ.

Eliana Prado Lopes Aude

Eliana Prado Lopes Aude formou-se em Engenharia Eletrônica pela UFRJ em 1976 e concluiu seu mestrado em Engenharia Elétrica também pela UFRJ em 1981. Fez doutorado em Electrical Engineering pela University of Manchester (1986). Pesquisadora atuante, Eliana continuou se aprimorando, tendo concluído em 2007 um pós-doc na Universidade de Harvard. Lecionou disciplinas na área de Robótica e Sistemas de Controle no Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e no Departamento de Engenharia Eletrônica da Escola Politécnica da UFRJ. Eliana também orientou dissertações de mestrado pelo PPGI e COPPE/UFRJ.

Em 1981, Eliana Aude foi convidada para iniciar no NCE a linha de pesquisa institucional na área de Automação e Robótica. Foi responsável pelo projeto Controlab, ambiente que integrava sistemas inteligentes em aplicações na área de Automação e Robótica.  Este projeto divulgou o nome do NCE pelo Brasil e por países como EUA, México e Japão, onde o braço mecânico ficou conhecido entre pesquisadores que admiravam a equipe, que, além de grande conhecimento técnico, usava a imaginação e muito boa vontade para vencer todos os obstáculos, conseguindo alcançar posição de vanguarda e destaque nessa área de pesquisa. Eliana e sua equipe sempre fizeram questão de destacar que o projeto Controlab pertencia ao NCE.

Em 1995, Eliana e sua equipe tiveram paper indicado como um dos três melhores trabalhos submetidos ao IEEE International Conference on Robotics and Automation, que aconteceu em Nagoya, Japão.

Quando se afastou para tratamento de saúde, Eliana e sua equipe trabalhavam no desenvolvimento de um carrinho que utilizava inteligência para tomada de decisão do melhor trajeto a seguir.  Esse projeto não foi finalizado, mas já funcionava e teve boa repercussão no meio acadêmico.

Eliana Aude trabalhou como analista de sistemas no NCE desde 1981 até seu falecimento em 2011. A pesquisadora era viúva do renomado pesquisador Julio Salek Aude.

Newton Faller

Contemporâneo de Faller no NCE e nos estudos em Berkeley, Jayme Szwarcfiter, professor e analista de sistemas do Núcleo, relembra a convivência com o pesquisador: “Enquanto fazia o doutorado, convivi com ele na mesma Universidade. Ele era muito calmo e defendia as pessoas com as quais trabalhava. Enfim, apesar de todos os êxitos em sua vida, ele não tinha vaidades. Na época, era funcionário da IBM num tempo que isso se comparava a trabalhar no Banco Central. Faller veio trabalhar num esquema que não tinha estabilidade nem perspectiva e o motivo pelo qual ele veio para a Universidade era seu ideal de desenvolver um produto nacional num momento em que não existia absolutamente nada”.

A tese de mestrado concluída em 1973, “O algoritmo de Huffman Interativo”, rendeu-lhe reconhecimento mundial ao ter seu nome incluído ao de Gallager e Knuft no método FGK. O estudo é um procedimento de compactação de dados através de um algoritmo que acelerava as contas aritméticas do computador e que é utilizado até hoje.

Sua ida a Berkeley para o doutorado em Ciência da Computação pela Universidade da Califórnia o fez mudar o rumo.

Após voltar ao Brasil, desde o ano de 1982, Newton Faller debruçou-se na elaboração do Pegasus, um sistema multiprocessador homogêneo que alcançava a performance de superminis através da replicação de módulos básicos.
O Pegasus foi o embrião da tecnologia dos supermicros. Os então chamados supermicros eram máquinas de 32 bits, com número de registradores (memória interna do microprocessador) com capacidade de endereçar pelo menos 16Mb de memória, que possuíam em seu hardware proteção para os programas.

O que hoje nos parece uma atividade quase que intrínseca do computador, à época, era uma inovação absoluta. Apenas um super micro tinha a capacidade de ser multiusuário e multitarefa, ou seja diversas pessoas poderiam utilizá-lo simultaneamente em diversas tarefas. Tal característica exigia um sistema operacional que os possibilitasse ser multiusuário e multitarefa para que tivessem aplicações científicas e comerciais. Estes equipamentos foram a primeira geração de computadores a utilizar o sistema operacional Plurix, desenvolvido na ocasião pela equipe de Faller.

O sistema operacional Plurix foi largamente apontado como uma das alternativas nacionais para substituir a importação do sistema padrão americano Unix, de propriedade da American Telegraph, AT&T. Comercializado através da EBC e da Sisco em 1988, após seis anos de pesquisa, o Plurix teve toda a sua primeira versão financiada pelo Fundo de Incentivo à Pesquisa do Banco do Brasil (FIPEC), mas os custos da segunda e terceira versões foram assumidos pelo próprio NCE. O professor acreditava na elaboração de um software no Brasil, mesmo com uma lei que facilitava a importação de programas estrangeiros. Em artigo escrito para a seção Opinião da Revista INFO à época da comercialização do software, Faller enfatizava em tom quase ufanista.

“Como país do terceiro mundo, o Brasil foi impedido de ter acesso à tecnologia do UNIX. A discordância do papel subalterno que lhe é reservado pelo Primeiro Mundo reuniu equipes de pessoal altamente qualificado para empreender o desenvolvimento de sistemas operacionais compatíveis com o Unix. Hoje (1988), tais sistemas são uma realidade. Estas equipes poderão produzir com facilidade os novos sistemas operacionais necessários para a evolução da indústria nacional. Apesar de toda a dificuldade, chegamos a uma invejável plataforma tecnológica em informática. Disso dependerá o papel que o país deverá desempenhar no cenário internacional do próximo século”.

Tropix: A nova geração do Plurix

A continuação do trabalho de Faller, após sua morte em 1996, deu-se com os pesquisadores Pedro Salenbauch e Oswaldo Vernet, que trabalharam junto com o professor.

Pedro Salenbauch relembra a grande capacidade de Faller de apreender novos conhecimentos: “Quando não sabia algum detalhe de qualquer assunto que fosse, Faller pesquisava arduamente até se mostrar um expert no assunto. E isso acontecia em muito pouco tempo. Era um grande estudioso” – recorda.

O sistema multiusuário e multitarefa concebido durante os anos de 1982 a 1986 (então intitulado Plurix) foi transportado em 1987 para o computador Icarus. Em 1994, teve início o transporte para a linha INTEL de processadores (386, 486, Pentium) e dois anos mais tarde, o Tropix pode ser utilizado em diversos computadores. O Tropix tem como utilidades o estudo e utilização de um sistema operacional de filosofia Unix, o desenvolvimento de software e a implementação de servidores para a internet. Com distribuição gratuita, o sistema cuja nova versão 4.8 está sendo trabalhada, pode ser instalado através de disquetes ou CD em computadores com processador Intel 486/Pentium ou equivalente. O sistema está disponível no endereço eletrônico www.tropix.nce.ufrj.br

Currículo

  • Engenheiro Eletrônico, formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA, de São José dos Campos – SP.
  • Doutor (PhD) em Ciência da Computação pela Universidade da Califórnia, em Berkeley.
  • Professor e Analista de Sistemas da UFRJ.
  • Trabalhou na IBM e no International Computer Science Institute – ICSI, na Califórnia, Estados Unidos.
  • Foi laureado como o 1º Prêmio de Pesquisa na 5ª Feira Internacional de Informática realizada em 1985.

Paulo Mario Bianchi França

Paulo Mario Bianchi França é engenheiro eletrônico formado pela UFRJ (1970), com mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação pela COPPE/UFRJ (1974) e doutorado em Electrical Engineering and Computer Sciences, pela University of California, Berkeley (1979).

Começou sua carreira profissional atuando como operador de computador do Departamento de Computação Científica da COPPE (DCC) em 1967, embrião do futuro Núcleo de Computação Eletrônica, criado três anos mais tarde.

No NCE, Bianchi atuou como analista de sistemas e pesquisador. Foi Diretor da Divisão de Operação, Diretor da Área de Desenvolvimento, da Área de Apoio Acadêmico e Coordenador do NCE.

Paulo Bianchi teve importante papel no sucesso do NCE, procurando sempre manter a instituição atualizada com o que acontecia na área de Computação, que crescia rapidamente no Brasil. Outra preocupação sua era melhorar e ampliar o parque computacional do NCE.

Como diretor e coordenador, incentivou a qualificação dos funcionários do NCE e foi um dos que, liderados pelo professor Denis França Leite, lutaram para que os analistas tivessem remuneração compatível com os salários do mercado, o que permitiu que a instituição formasse um quadro de pessoal com alto nível técnico.

Em 1972, junto com outro fundador do NCE, o analista Luiz Antonio da Cunha Couceiro, fez uma visita à Universidade de Stanford, na Califórnia, que marcou o NCE. Lá buscaram apreender toda a experiência e conhecimento possíveis. Como consequência, fizeram a primeira mudança na estrutura organizacional do NCE, que passou a ter cinco divisões: Divisão de Assistência ao Usuário, Divisão de Processamento Administrativo, Divisão de Desenvolvimento, Divisão de Operação e Divisão Administrativa.

Em 1987, quando o NCE comemorou 20 anos, Bianchi lançou o livro “E Assim se Passaram, Quem Diria, 20 Anos”, que conta de uma maneira bastante pessoal, a história do NCE, que se mistura à história da computação no Brasil.

Paulo Bianchi se aposentou 2001. Após seu afastamento do NCE, lecionou Ciência da Computação na Universidade da Califórnia, Santa Cruz por mais de dez anos. Em 2003 fundou a DataCare Corporation, empresa que oferece “web based” software na área médica e de seguros. Desde 2011, Bianchi tem se dedicado exclusivamente a DataCare que hoje emprega vinte engenheiros e analistas. Paulo Bianchi tem procurado manter na DataCare os mesmos princí­pios de equipe e cooperação que nortearam o crescimento do NCE.

Tércio Pacitti

“Quando saí de casa, em Lins, no interior paulista, e fui estudar em Piracicaba, longe de minha família, com quatorze anos de idade, meu pai me deu uma Bíblia. Na parte de dentro da capa posterior ele grudou uma página datilografada por ele mesmo, contendo 23 conselhos comportamentais apropriados às “tentações” da juventude da época. Chamo-os de “mandamentos” de meu pai, pautados em uma escala de valores que ele achava certa. Ele conhecia minhas tendências e travessuras.”

A Bíblia com os 23 mandamentos remonta as primeiras recordações de Tércio Pacitti sobre sua infância e a dedicação dos pais a sua formação intelectual. Aos quatorze anos de idade, quando saía de casa para estudar numa cidade distante, Tércio optava por um caminho que o levaria a ser um dos principais nomes da consolidação da informática no Brasil nas décadas de 60 e 70. O então menino, preocupado em ser obediente e estudioso, somente se ocupava da família nas visitas de fim de ano, quando estava de férias da escola. Nesse tempo, convivendo com as dificuldades dos estudos e com os obstáculos da vida, ele procurava consolo com o Tio Saturnino, amigo de confidências durante os passeios em Bragança Paulista, que segundo o próprio Brigadeiro Pacitti “o ajudou a vencer as angústias e frustrações geradas por expectativas emocionais não atingidas”.

Embora encontrasse dificuldades em manter seus estudos, Pacitti, estudante do curso de engenharia civil do Mackenzie, ao saber da criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, decide se inscrever no vestibular do ITA, oportunidade que lhe custaria o abandono do estágio na disciplina de Topografia e o curso de instrução do centro de preparação de oficiais da reserva. Bem sucedido em sua escolha, sendo aprovado no vestibular e no exame médico, mesmo míope, Pacitti ingressa no curso de engenharia aeronáutica, especialidade em aerovias, concluído em 1952.

A Vocação para Eletrônica

Devido à descontinuidade do curso de engenharia aeronáutica, realizado em parte no IME, no ITA e com o aproveitamento dos créditos do curso iniciado no Mackenzie, Pacitti foi cursar no Centro Aeronáutico de Oklahoma uma especialização avançada da eletrônica na época, onde teve que aprender a manejar equipamentos, sem ainda ter conhecimento das disciplinas básicas da eletrônica. O convite para lecionar no ITA na turma do último ano do curso de Engenharia Eletrônica veio em 1954, e sentindo-se inseguro com o tema por somente conhecer a aplicação operacional e não as teorias básicas de eletrônica, Pacitti concordou em ensinar a parte aplicativa do curso sob a condição de frequentar as disciplinas para se tornar engenheiro eletrônico, objetivo concretizado em 1959.

A facilidade para operar sistemas e os conhecimentos em Fortran, fizeram de Pacitti um pioneiro no Brasil a escrever sobre o tema e se tornar referência no assunto. Sigla do Formula Translator, Fortran foi a primeira linguagem de programação chamada de alto nível, elaborada no IBM 701 que abriu oportunidade para os usuários oriundos das ciências exatas. Esse tipo de linguagem causou uma revolução para as duas décadas de usuários de informática. O próprio Pacitti relembra o fato: “O Fortran-Monitor começou a vender bastante porque o IBM 1130 penetrava nas universidades. Esta dobradinha criou um mercado ainda inexistente. O IBM 1130 era mais barato e bem mais avançado do que o 1620. Todos os periféricos eram on-line e ele possuía um pequeno sistema operacional, praticamente inexistente nas máquinas de pequeno porte da época, e disco removível residente. Já existiam diversos livros de Fortran publicados em inglês, de modo convencional. Escrevi o meu de uma maneira não convencional, como aprendi a linguagem; mexendo nos manuais das máquinas, fazendo pequenos programas e experimentando-os. Nunca fiz um curso formal sobre Fortran.”

A Entrada no Mundo Civil: o NCE

O primeiro contato entre Pacitti e a UFRJ, se deu em 1976 por intermédio do professor Coimbra, da pós-graduação de engenharia, que seria mais tarde a COPPE. A ideia era que os alunos de mestrado da UFRJ pudessem dar prosseguimento a suas dissertações no ITA. Como define o Brigadeiro: “Os alunos iam do Rio para São José dos Campos porque não havia um computador científico na cidade. A facilidade proporcionada pelo Fortran do 1620 os atraía, porque na capital carioca não existia nenhuma máquina instalada que aceitasse plenamente essa linguagem”.

O convite para trabalhar na Universidade veio logo em seguida por telefone, numa conversa que a época, o capitão Pacitti se recorda: “O Coimbra me ligou dizendo: você não quer vir aqui instalar essa máquina? (Era um IBM 1130, um dos primeiros no Brasil.) Eu ponderei muito, falei com o ministro da aeronáutica e senti afinal que eu poderia ter mais futuro técnico com aquela máquina do que o ITA iria me proporcionar. Seria então criado o novo Departamento de Cálculo Científico (DCC), onde este computador iria funcionar”.

O DCC foi o embrião do Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ. A presença deste novo e potente computador na Universidade despertou a atenção de outros setores governamentais sediados no Rio de Janeiro, o que se tornou um boom computacional universitário em todo o Brasil.

O Núcleo se encontrava estruturado para as finalidades administrativas da UFRJ: os primeiros sistemas administrativos desenvolvidos foram para a Divisão de Registro de Estudantes (DRE) para o pagamento (PAPE) de toda a universidade e o Sistema de Automação de Bibliotecas. As orientações das pesquisas realizadas no Núcleo seguiam a filosofia de se destinar a uma complexidade crescente, de modo que os resultados obtidos pudessem produzir conhecimento e consequentemente impulsionar a indústria nacional.

Segundo Pacitti, a estratégia foi satisfatória naquele período: “Conseguimos incentivar algumas indústrias na década de 70. A MICROLAB industrializou o Processador de Ponto Flutuante, que envenenava uma máquina mais antiga, tornando-a dez vezes mais rápida. E todos na Universidade compraram esse produto. Estavam envolvidos nesse projeto o Newton Faller e Pedro Salenbauch. A partir dessa arrancada, vi que gente boa traz gente boa”.

EMBRAER, Semente da EMBRACOMP

Dentro das iniciativas no Núcleo, uma visita a Embraer em São José dos Campos, composta por Pacitti e mais seis estudantes do NCE, foi a semente para a formação da Embracomp. Como relembra o Brigadeiro: “A Embraer estava de vento em popa. Projetava, fabricava, montava o que podia com componentes nacionais e exportava. O jovem pessoal do NCE ficou impressionado com o que viu”.

E a impressão foi tão boa, que após uma semana os técnicos do NCE procuraram Tércio Pacitti para criar uma empresa e industrializar os protótipos desenvolvidos por eles. Com setenta acionistas, entre eles programadores, analistas e funcionários, a empresa tinha como capital inicial cerca de 28 mil reais, provenientes das prestações mensais de 33 reais de cada sócio que integraria o total em um ano.

A empresa intitulada Embracomp, nasce dessa empreitada e se estabelece numa pequena casa do bairro de Bonsucesso, com o aluguel avalizado pelo próprio Pacitti. Da época, o Brigadeiro guarda um segredo: “Eu mesmo adquiri algumas ações para prestigiá-los, em nome de um dos participantes. Fiquei incógnito para que pessoas com visão curta e estreita não me imputasse segundas intenções não compatíveis com o meu cargo. Desejava apenas demonstrar que acreditava em suas intenções”.

E tinha razão em acreditar. A empresa durou 17 anos no mercado (mudou de nome mais tarde por causas técnicas) e produziu terminais de vídeo, concentradores de comunicação, microcomputadores (dos quais dois acomodaram o Plurix), além de seu primeiro produto, um terminal de vídeo universal, batizado de TB-110, no qual o número fora extraído do avião Bandeirante EMB-110, o mesmo utilizado como transporte para a visita à Embraer.

Da história, Pacitti tira bons resultados, embora não se esqueça da crítica: “o esforço do empreendimento e a garra por trás de cada jovem merecem uma citação em destaque. Entretanto, posteriormente esses jovens aprenderam que as decisões empresariais se fazem em uma estrutura piramidal. Na Embracomp a pirâmide estava invertida. Mas a experiência foi válida para abrir caminho para pequenas empresas que mais tarde emergiram do NCE.”

A Despedida

A despedida do Núcleo foi se concretizando aos poucos. O rodízio que ocorria na direção de dois em dois anos, empossou como diretor Jayme Szwarcfiter, Pacitti ainda ficou um ano como diretor adjunto.

“Comecei a ficar desgastado e senti que estava no momento de passar a direção do NCE a outro companheiro. Tive que fazer uma escolha, pois há muito não estava fazendo nada na área militar, de modo que eu não seria promovido nem a coronel nem a brigadeiro. Para me dedicar a Aeronáutica saí e deixei o Núcleo em boas mãos” – comenta Pacitti.

Após a experiência no Núcleo, Tércio Pacitti foi condecorado Brigadeiro, assumiu a função de reitor do ITA e da UNIRIO. Atualmente é consultor da empresa Consist.

Paradigmas do Software Aberto

O tema para seu mais recente livro, Pacitti tirou de uma situação complicada. Estava num congresso sobre tecnologia quando foi perguntada sua opinião sobre software livre. Pouco sabia a respeito de código aberto e de ambientes livres, mas se saiu bem respondendo que a nova modalidade dos softwares necessitava de incentivo e mais intercomunicação entre as tecnologias. Bem ao estilo dos indivíduos que fazem de um limão uma limonada, Pacitti aproveitou a situação para estudar a situação do software de código aberto. Dedicação que resultou no livro “Os paradigmas do software aberto” a ser lançado em janeiro de 2006 pela LTC editora. O livro é composto de uma visão pessoal sobre um tema em voga, Software Aberto e, em decorrência, Software Livre, que possui implicações tanto de caráter técnico e científico quanto social político.

Livros Publicados

  • Fortran – Princípios (1967)
  • Programação e Métodos Computacionais – vol. 1 (1975)
  • Programação e Métodos Computacionais – vol. 2 (1976)
  • Programação – Princípios (1987)
  • Do Fortran à Internet (2000)